Aposentadoria deve ser pensada com
cuidado!
Planejando o futuro!
Para ter uma boa qualidade de vida após o fim da carreira profissional é
preciso planejamento desde cedo, e em vários aspectos
Os brasileiros alcançaram uma expectativa de vida de 74,6 anos em 2012, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada ano que
passa, são acrescentados vários dias ao tempo de vida médio esperado do
brasileiro ao nascer. Para se ter uma ideia da evolução, em 1991 a expectativa
de vida era de 66 anos. Em pouco mais de duas décadas houve um grande avanço,
provocado por melhorias na qualidade de vida da população em geral.
A pessoa pode pensar inicialmente que vai continuar trabalhando,
mas em algum momento ela vai parar”, diz Conde
mas em algum momento ela vai parar”, diz Conde
aposentadoria
oferecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Se o brasileiro vai
viver por mais tempo, ele também pode contribuir por um período maior, o que
posterga a idade mínima para que o trabalhador receba o benefício.
Ainda assim, se a pessoa iniciar sua contribuição quando jovem, é
possível se aposentar com uma idade baixa se comparada com a expectativa de
vida. Muitos trabalhadores se aposentam na faixa dos 50 anos, quando ainda
possuem décadas para a frente. É natural que o contribuinte deseje receber um
benefício que passou anos pagando, mas também é preciso avaliar com cuidado se
o tempo mínimo de contribuição, que atualmente é de 35 anos para os homens e de
30 anos para as mulheres, resultará em um benefício com valor adequado para
suprir as necessidades da pessoa. Se não for, recorrer a outras medidas pode
ser uma saída.
“A pessoa pode
pensar inicialmente que vai continuar trabalhando, mas em algum momento ela vai
parar e o benefício vai continuar para o resto da vida”, alerta Newton Cezar
Conde, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e
Financeiras (Fipecafi), entidade criada por docentes da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade (FEA). Conde questiona o hábito de pedir a
aposentadoria em uma idade relativamente baixa. “Financeiramente falando, o que
compensa mais: você pedir um benefício aos 52 anos, que seja equivalente a 65%
do seu salário, ou um aos 62 anos, que seja equivalente a 100%?”
Segundo o professor, mesmo se o aposentado optar por guardar o dinheiro
do benefício em uma poupança, o rendimento desta não compensará a perda que se
teve no valor do benefício ao pedi-lo com o tempo mínimo de contribuição. “E a
maioria das pessoas gasta esse dinheiro, não guarda”, afirma. Por causa disso,
o aposentado pode sentir necessidade de continuar no mercado de trabalho, já
que o valor do benefício do INSS não é suficiente para manter seu padrão de
vida, o que, além de impedir que ele realize outras atividades, dificulta a
renovação do quadro de funcionários das empresas.
Previdência Complementar
Newton Cezar Conde, professor da Fipecafi, acredita que as pessoas
deveriam começar a pensar na aposentadoria a partir dos 20 anos
O valor da aposentadoria representa uma queda ainda maior nos
rendimentos de quem recebe acima do teto do INSS, que hoje é de R$ 4.396. Um
contribuinte que receba valores mais altos que esse e tenha seu modo de vida
adaptado a tal faixa salarial irá sofrer uma queda abrupta nos rendimentos se
optar por sair do mercado de trabalho ao receber o benefício.
É preciso pensar com antecedência para evitar que isso ocorra. Planos de
aposentadoria complementar podem ser uma alternativa para aumentar a renda após
o fim das atividades profissionais, mas os valores a serem recebidos vão
depender do tempo que a pessoa passou contribuindo e das quantias que escolheu
guardar para a complementação da aposentadoria.
Para ajudar os funcionários estaduais paulistas na tarefa de poupar para
o futuro foi criada a Fundação de Previdência Complementar do Estado de São
Paulo (SP-Prevcom), entidade sem fins lucrativos vinculada à Secretaria da Fazenda
do Governo do Estado de São Paulo. “A previdência complementar tem o objetivo
de manter o padrão de vida da pessoa aposentada. É uma maneira de fazer uma
poupança com o auxílio do patrocinador”, explica Carlos Henrique Flory,
diretor-presidente da SP-Prevcom. O patrocinador é o Estado, ou no caso dos
servidores das universidades estaduais paulistas, a própria universidade. Ele
contribui com até 7,5% da parcela do salário do servidor que exceder o teto do
INSS. “É uma porcentagem excelente”, afirma o professor da Fipecafi.
O esquema de
patrocínio só vale para aqueles que recebem acima de R$ 4.396 e facilita que o
servidor acumule uma quantia que poderá ser resgatada após o desligamento deste
com o empregador, resultando em uma renda extra que complementará a
aposentadoria. Para saber mais detalhes sobre como proceder para aderir aos
planos da SP-Prevcom, veja matéria da edição 156 (dezembro/janeiro) da revista Espaço
Aberto (http://www.usp.br/espacoaberto/).
Apesar de não ter o apoio do patrocinador, as pessoas que recebem valor
abaixo do teto do INSS também encontram vantagens nos planos de aposentadoria
complementar. “Você se obriga a fazer um planejamento financeiro de forma que
sobre uma quantia no final do mês. Como já vem descontado no salário, você tem
que se adaptar. É uma poupança obrigatória”, comenta Flory. Por ser uma
instituição sem fins lucrativos, as taxas administrativas dos planos de
previdência da SP-Prevcom são mais baixas do que as de outras aplicações
realizadas por bancos. Além disso, Flory afirma que o investimento é mais
seguro, uma vez que “você está fazendo uma poupança dentro de uma instituição
que tem seus colegas no conselho”. O dinheiro guardado nos planos de
aposentadoria complementar também rende, pois é aplicado no mercado financeiro.
“Sempre é vantajoso aderir à previdência complementar”, afirma Carlos
Henrique Flory, diretorpresidente da SP-Prevcom
Como o valor da aposentadoria complementar depende inteiramente do tempo
de contribuição e da quantia que se optou por contribuir, quanto antes ela for
iniciada, melhor. “O ideal seria que a pessoa começasse a pensar na
aposentadoria a partir dos 20 anos”, opina Conde. Porém, o comum é que o
trabalhador só se preocupe com o benefício a partir dos 40 anos, quando seu
tempo restante de serviço já foi bem reduzido e fica mais difícil guardar um
valor significativo. Difícil, mas não impossível.
“Sempre é vantajoso aderir à previdência complementar”, afirma Flory.
Ainda mais se houver o apoio do patrocinador, o valor adquirido em alguns anos
de participação será um complemento, mesmo que pequeno. Para difundir o
conhecimento sobre a importância de se planejar a aposentadoria e o papel que a
previdência complementar pode ter, a SP-Prevcom realizará um programa de
educação financeira, com atividades voltadas tanto para pessoas mais velhas
quanto mais jovens. Segundo o diretor-presidente da instituição, o programa
será iniciado em breve.
Planejamento não só financeiro
A professora da Faculdade de Saúde Pública Helena Watanabe aconselha que
se comece a pensar em atividades para fazer após a aposentadoria e em como realizá-las
Se planejar economicamente a aposentadoria é fundamental, o lado
psicológico também precisa de atenção. “As pessoas muitas vezes aguardam
ansiosamente a aposentadoria, mas não se preparam para ela”, conta Helena
Watanabe, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP). Com o término da
carreira profissional, ocorre uma mudança de papel na vida do aposentado. Ele
perde o vínculo com seu emprego e a rotina que costumava realizar, então,
precisa encontrar uma nova referência. Helena afirma que esse processo é mais
severo nos homens, que muitas vezes não realizam atividades fora do âmbito
profissional, o que dificulta o processo de adaptação após a aposentadoria.
“Ainda estamos em uma sociedade que pensa o homem como o provedor da
família”, afirma a professora. Por isso, ele sente mais dificuldade em
encontrar outro papel que não o daquele que garante o sustento do núcleo
familiar. Também é comum que os homens possuam poucos amigos fora do círculo de
trabalho, e que se fechem na família após a aposentadoria, o que pode causar
tristeza e depressão em casos mais graves.
Após o término da vida profissional, é preciso se adaptar a uma nova
rotina
Para evitar que os idosos aposentados se sintam solitários, existem
grupos de convivência, onde são realizadas atividades e eles podem fazer novas
amizades e conviver com pessoas de fora do âmbito familiar. Mas Helena critica
que muitas dessas atividades visam ao público feminino, deixando as
preferências dos homens de lado. É comum que existam grupos de pintura,
artesanato e bordado, o que não satisfaz a demanda dos senhores aposentados.
Uma alternativa seria a criação de grupos de marchetaria ou outros hobbies que
os senhores se sintam mais estimulados a realizar, pois promover a socialização
dos idosos aposentados é fundamental para garantir a qualidade de vida.
A professora da Faculdade de Saúde Pública diz ainda que se programar
para os anos sem trabalho ajuda a lidar melhor com o fim da carreira
profissional. Por exemplo, se o sonho de um trabalhador é abrir um pet shop
quando se aposentar e ele pretende parar de trabalhar dentro de cinco anos, é
indicado que ele comece a se preparar para realizar seu plano desde já. Estudar
o mercado, procurar um ponto comercial, aprender técnicas de administração e
como lidar com os animais, enfim, tudo aquilo que será necessário para que seu
sonho seja realizado. Deixar para fazer tudo apenas quando a aposentadoria estiver
consumada pode atrapalhar os planos. Com a programação prévia, a pessoa já pode
se aposentar produzindo novamente, evitando que ela se sinta deslocada.
Cuidar da saúde desde jovem significa ter menos doenças nessa fase da
vida
Os cuidados com a saúde acompanham o planejamento para os anos de
aposentadoria. “Temos que cuidar da nossa saúde desde jovem, para que possamos
chegar a uma fase da vida, aposentado ou não, com menos doenças, ou ao menos
com problemas controlados”, aconselha Helena. Se vamos viver mais, precisamos
trabalhar para viver bem.